Neste artigo, abordamos um dos temas mais relevantes da vida: o livre-arbítrio. Haverá predeterminismo? Se sim, até que ponto somos livres? Quais os imensos cuidados que terapeutas das artes divinatórias, como a Astrologia, deverão ter  no que toca a “previsões”? Qual o nosso papel enquanto criadores do nosso futuro?

Recentes investigações da genética indicam que decidimos de forma altamente inconsciente e que, por consequência, muitos dos nossos comportamentos estão predeterminados biologicamente.

Em certa medida, a Astrologia parte deste princípio. Que há um padrão de heranças biológicas, psicológicas, e culturais que condicionam as nossas “escolhas” num determinado caminho, tornando-o relativamente previsível.

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Várias correntes do Espiritualismo também partem desta base: que há um plano de vida à nascença, uma série de objetivos a cumprir na nossa aprendizagem.

Essas metas estão previamente definidas sem que disso tenhamos noção, mas são facultativas. Ou seja, temos liberdade para atingi-las, transcendê-las ou ficar aquém, em nosso próprio benefício ou prejuízo. Portanto, sim: temos simultaneamente um predeterminismo parcial e livre-arbítrio.

Em consonância com o chamado “karma”, poderemos ter metas mais livres e descomprometidas enquanto outros terão menor margem de negociação. Por outras palavras, haverá uma série de marcos no nosso caminho, mas que são total ou parcialmente negociáveis, tanto no tempo como na essência.

Por exemplo, poderá estar contemplado no meu caminho, e mais adequado para a minha evolução, o casamento com a pessoa A, o emprego B, e o filho C , em determinada altura. Porém, haverá sempre alguma margem para casar com outra pessoa, ter outro tipo de trabalho ou mesmo não ter aquele filho quando era “suposto”.

Em termos de linha de “destino” é como se escolhesse outro caminho, podendo essa escolha ser ou não mais benéfica para mim, em termos de evolução a longo prazo.

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Tal como numa universidade, temos várias disciplinas a fazer num determinado ano: a auto-confiança, o amor, a independência, por exemplo.  Mas podemos deixar algumas cadeiras para trás, que faremos mais tarde (com mais dificuldade), ou mesmo ganhar liberdade de escolha de matérias, à medida que chegamos aos últimos anos do curso.

Por outras palavras e descansando os mais sensíveis ao tema do livre-arbítrio: sim, é verdade e evidente, temos mesmo liberdade de escolha, que é proporcional ao grau de responsabilidade com que assumimos a nossa vida.

E o papel de um coach, de um terapeuta ou de um astrólogo será o de ajudar na compreensão de qual a melhor opção disponível, em cada etapa. E isto implica muito mais uma atitude de proatividade do que passividade perante um cenário imutável, seja muito adverso ou muito benéfico.

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Em minha opinião de astrólogo, este é um ponto muito sensível para cliente e profissional, tendo uma condicionante extra atualmente.

É que na época em que vivemos, muitas mudanças sociais estão em curso, provavelmente diferentes daquelas que eram antecipadas há 30, 40 ou 50 anos. E, portanto, os cenários são ainda menos previsíveis em absoluto, quando nos baseamos apenas nos mapas de nascimento das pessoas (em especial, nessas faixas etárias).

E daí que trânsitos ou direções aparentemente importantes não correspondem necessariamente a grandes mudanças da vida da pessoa, em dado momento (o mesmo não acontece necessariamente noutras abordagens como a Horária, que se baseia no mapa do presente).

Mas então qual a utilidade da Astrologia e de certas artes “divinatórias”? Não é a de prever o futuro, mas sim de compreender os cenários prováveis em conformidade com as nossas decisões A, B ou C, apontando para a melhor decisão (não necessariamente a mais fácil), em determinada fase, para a nossa plenitude.

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E, sem dúvida, o mapa astrológico aponta para esses caminhos. Por exemplo, a Casa de Saturno, a Casa do Sol, o chamado signo Ascendente, a Cabeça do Dragão , revelam todas essas atitudes e aprendizagens que devem orientar as nossas decisões, em cada esquina da vida.

Mas essas decisões são mesmo isso – decisões – cabendo-nos o papel central de assumir toda a responsabilidade por elas ou as consequências de não querermos decidir nada.

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Hoje, acredito por experiência que realmente as pessoas podem adiar, saltar ou antecipar certas mudanças de vida – escritas na Astrologia, nos seus mapas de nascimento. Contudo, tenho bastantes dúvidas nos casos em que não há uma grande mudança na altura em que era “suposto” – que a pessoa esteja a cumprir o seu melhor caminho, ou seja, a sua melhor opção.

 Claramente, se essa decisão ou “não-decisão” contraria sistematicamente os principais indicadores de aprendizagem do mapa natal, então, não será a mais aconselhável. Mas o cliente tem liberdade para a tomar, assumindo as devidas consequências.

Por outras palavras, podemos dizer que os profissionais das artes “divinatórias” podem antecipar cenários altamente prováveis, pela interpretação dos arquétipos. Mas a sua verdadeira função deverá ser a compreensão das hipóteses de escolha do indivíduo e motivá-lo para as melhores ações ou decisões no presente.

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Resumindo, podemos dizer que o (bom) destino está espelhado nos céus mas inteiramente depositado nas nossas mãos, caso tenhamos a coragem de o assumir. Ser ou não ser (realizado), eis a verdadeira questão, para a qual somos livres de escolher.

Obrigado

João Medeiros

Lisboa, 2 de Outubro de 2015

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