No recente dia 14 de Julho de 2015, a sonda New Horizons chegou a uma proximidade nunca antes alcançada de Plutão. Quais serão as implicações simbólicas desta nova visão do planeta? O que o momento astrológico desse “contacto” pode revelar, em relação às mudanças sociais aqui na Terra? O que mudará na função de Plutão, enquanto arquétipo interpretativo?

A “visita” a Plutão é, sem dúvida, um grande feito científico que demonstra mais uma vez os potenciais intelectuais e de coordenação do ser humano.

A sonda demorou apenas 9 anos a percorrer o espaço sideral da Terra a Plutão, com ajuda propulsora da órbita de Júpiter, o astro das grandes viagens.

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Esta descoberta coincide com um conjunto de eventos extraordinários na história recente da humanidade, nos quais se destacam:

– o acordo com o Irão sobre o seu programa nuclear (após 12 anos de negociações), que redefine o mapa geopolítico do Médio Oriente;

– o terceiro resgate financeiro da Grécia, numa situação limite de bancarrota que relançou a discussão da Europa e dos seus valores;

– as quedas acentuadas da bolsa de Xangai.

Não será, portanto, muito difícil perceber que esta revelação estará relacionada com os desenvolvimentos destes temas nos próximos tempos: as crises das dívidas, o terrorismo e os mercados bolsistas.

Relembramos que Plutão foi oficialmente descoberto no ano 1930, depois de procurado intencionalmente durante décadas. Esta época, coincidiu com o início da Grande Depressão, após o crash bolsista de 1929, e também com o reconhecimento oficial das teorias psicanalíticas de Freud, sobre o inconsciente, a sexualidade e a depressão.

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Por coincidência, foi uma menina de 11 anos que batizou o planeta Plutão, facto que nos remete imediatamente para a narrativa mitológica grega de Hades e Perséfone. No mito, a jovem Deusa foi raptada pelo Deus do Submundo após comer uma baga proibida. Este manteve-a sequestrada, fazendo dela sua mulher o que desencadeou o desespero da Mãe natureza, Deméter.

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Na mitologia, o Deus dos Mortos está associado ao crime, ao sexo, ao poder e à riqueza.

Na Astronomia, foi desclassificado do estatuto de planeta do sistema solar em 2006, devido à sua dimensão e órbita excêntrica, assumindo a categoria de planeta anão do cinturão de Kuiper.

Na Astrologia clássica, Plutão não era usado na matriz de interpretação, uma vez que a sua existência astronómica era desconhecida. As suas funções eram repartidas pelos planetas “maléficos” tradicionais: Marte e Saturno.

Na Astrologia psicológica, contudo, é considerado um astro relativamente importante, estando associado ao poder, à compulsividade, à morte, à destruição e ao que é escondido. No plano mundial, Plutão governa o mundo financeiro, o crime, a espionagem, a prostituição e a corrupção.

Idealmente, representa uma grande riqueza de recursos bem como uma força de vontade extraordinária que nos permite ultrapassar a maior das crises – como uma doença terminal, falência, morte ou separação – e renascermos por completo ainda mais fortes.

 Esse renascimento acontece tanto em termos físicos como emocionais. Assim, este astro lembra-nos que há sempre vida além da morte, por maior que seja a dor.

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Na Astrologia moderna, considera-se Plutão um regente alternativo do signo Escorpião, pelas associações óbvias com este arquétipo.

Mas o que nos pode dizer, então, a nova “fotografia” de Plutão, tanto em termos simbólicos como astrológicos?

A primeira imagem divulgada pela Nasa fez furor na internet devido à mancha cor-de-rosa em forma de coração, região montanhosa entretanto baptizada de “Região Tombaugh”.

 O que nos pode, com legitimidade, suspeitar de uma simbologia mais amorosa associada a este arquétipo, em termos psicológicos.

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Será Plutão, um ser muito apaixonado e movido pelo amor, e daí, ter raptado mitologicamente a donzela? Em que medida os nossos impulsos por segurança material e posse não serão reflexos apenas de um enorme desejo de amar e sermos amados? Estará por detrás de uma grande compulsão por poder, uma grande fragilidade afetiva e baixa auto-estima?

Por outro lado, imagens mais próximas mostram montanhas íngremes de gelo ou rocha com mais de 3500 metros de altitude. Um cenário digno dos desfiladeiros sombrios do Senhor dos Anéis.

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Será Plutão também um símbolo de subidas ou quedas vertiginosas, um território no qual devemos ter o máximo foco de objetivos para subir de forma segura? Por outras palavras, um arquétipo de determinação?

Mas, em caso afirmativo, como combinam estas duas mensagens aparentemente paradoxais, de amor e determinação gelada?

A fotografia revela um tom avermelhado de Plutão, à semelhança de Marte. O que não deixa de ser curioso, uma vez que astrologicamente os dois astros estão associados.

A adicionar ao desafio, as últimas imagens mostram algo que os astrónomos julgavam impensável: vastas planícies sem crateras e geladas, com mais de 100 milhões de anos, bem como a certeza de conterem água.

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Para tentar decifrar esta nova simbologia de Plutão, vejamos o que nos diz o momento astrológico desta sua “fotografia” quando recebida na Terra.

O Momento de Plutão

O momento desta nova revelação de Plutão é de uma riqueza simbólica espetacular que tentaremos decifrar.

Vejamos a cronologia da nova imagem de Plutão:

– a 13 de Julho, pelas 21h (BST – fuso de Portugal) no Planeta Terra, a sonda New Horizons tira a famosa fotografia com o coração;

– a 14 de Julho , pelas 12h49 (7h49 – EUA), a sonda atinge a sua proximidade máxima a Plutão e 1 minuto depois a NASA divulga no Twitter a famosa imagem (recebida nessa altura).

Podemos dizer por isso que o lançamento da imagem nas redes sociais, coincidindo com o pico da experiência, será o momento mais adequado para análise astrológica. Quanto ao local, o próprio laboratório da NASA, centro das operações (em Laurel, Maryland, nos EUA), será o mais adequado para cálculo das coordenadas.

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Iremos focar apenas os fatores mais essenciais deste momento único.

Plutão, está localizado em Capricórnio conjunto à estrela Vega, da Constelação da Lira, uma estrela benéfica e artística. Esta conjunção simboliza a capacidade de transmutarmos a nossa sombra mais negra pela arte, por exemplo, através da música.

MENSAGEM nº 1 de PLUTÃO – “Se estás deprimido ou em crise, expressa-te artisticamente. Quem canta ou dança, seus males espanta.” 

O signo de Capricórnio (que Plutão atravessa desde 2008) representa o lado montanhoso, determinado e íngreme deste planeta. Ou seja, as características resolutas que deveremos assumir, focando objetivos claros e ambiciosos nas nossas vidas.

Está retrógrado e na luminosidade máxima (porque oposto ao Sol), em relação à Terra. Por conseguinte, está excessivamente poderoso, tendendo para se corromper e achar-se a autoridade máxima sem regras que o dominem: ou seja, um fora-da-lei.

Esta qualidade de Plutão estará ligada tanto ao lado criminoso de cada pessoa, no que respeita ao atropelo dos direitos e valores comuns (fuga aos impostos, relações escondidas, concorrências desleais) como aos governos e grandes instituições corruptas. Portanto, a determinação a todo o custo pode levar à cegueira moral, algo que deveremos evitar.

MENSAGEM nº 2 de PLUTÃO – “Sê determinado nos teus objetivos, moralmente inquebrável, e profundamente justo – evitando atropelos e crimes teus ou dos outros .” 

Em oposição a Plutão temos – Sol, Lua, Mercúrio e Marte – no signo do Caranguejo/ Câncer.

Esta oposição astrológica retrata bem o corrente desafio que muitas pessoas sentem: como é possível construir uma família e uma base afetiva (Caranguejo) quando a pressão financeira e profissional é tão sufocante (Capricórnio)?

Pela positiva, sugere a possibilidade de realmente conseguirmos aceder ao nosso inconsciente, enquanto humanidade, entendendo realmente quais as nossas motivações, fazendo uma cura profunda. É, portanto, um excelente sinal quanto ao desenvolvimento presente e futuro de ciências como a Psicologia.

MENSAGEM nº 3 de PLUTÃO – “Entende que a família e o trabalho fazem parte do mesmo eixo e que os dois se devem reforçar mutuamente, por mais que isso te pareça impossível.” 

Contudo, a oposição exata de Marte a Plutão também nos alerta para os perigos militares e terroristas que ainda ameaçam a Terra. Em especial, porque Marte está ele próprio conjunto à estrela nacionalista e defensiva Sírius. Recordamos que a 2ª Guerra Mundial foi resultado da Grande Depressão que atirou milhares de pessoas para o desemprego e para a miséria, levando-as a fanatismos ideológicos e a radicalismos.

As Casas 12 e 6 desta oposição enquadram-se perfeitamente com o dilema do desemprego mundial, com a pobreza e com o trabalho em condições de escravatura.

Igualmente, a tensão Caranguejo / Capricórnio lembra-nos  a confrontação mitológica entre a Mãe natureza – Deméter – e Hades, reforçando novamente a oposição entre os valores nacionalistas e os monopólios financeiros.

Contudo, à luz do mesmo mapa, também poderemos encontrar soluções para estes dramas: sabermos educar bem as crianças do planeta, cuidar da fase de bebé de cada pessoa, que é a moldura da sua identidade futura e da sua responsabilidade como adulto.

MENSAGEM nº 4 de PLUTÃO – “A sociedade atravessa uma fase crítica de mudança e temos a responsabilidade de criarmos um mundo com mais riqueza para todos. Para isso precisamos proteger os valores familiares e solidários, evitando assim guerras e misérias, sabendo ser disciplinados e respeitadores em simultâneo.” 

Por seu lado, o planeta Saturno, dispositor de Plutão, é um espelho fascinante de toda a simbologia arquetípica do mitológico Deus.

Está estacionário e nos últimos graus de Escorpião (os mais diretamente ligados à morte e ao oculto) e, por coincidência, em exata quadratura a Vénus, a princesa.

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Que melhor indicador da radicalidade simbólica deste momento tão importante da humanidade? Saturno – o Plutão tradicional, posicionado na Casa debaixo da Terra (a Casa 4) e em Escorpião – raptando a princesa linda, Vénus em Leão?

E o que isto significa? Precisamente o eterno dilema de Plutão: como controlar o Amor? Em que medida as nossas frustrações sexuais ou de auto-estima nos impelem a uma obsessão material ou de controlo do parceiro?

MENSAGEM nº 5 de PLUTÃO – “É possível criar relações amorosas de grande profundidade, afeto e confiança sem que qualquer das partes seja manipulada: sexualmente, financeiramente, ou qualquer outro modo.”

Mais uma vez fica patente uma das mais antigas dialéticas da humanidade que podemos traduzir na equação poder=dinheiro=sexo. Para sermos amados e desejados pelos outros (e para podermos amar) tendemos a desenvolver obsessões destrutivas e corrosivas.

E de onde vem esta compulsão repressora? Da casa 4, as profundezas do nosso inconsciente e dos antepassados, sejam familiares ou outros.

Então, podemos dizer que este momento de Plutão também nos questiona em que medida nos aprisionamos em relações tóxicas, por medo de perda (material ou emocional), pela ânsia de sobrevivência, em vez de valorizarmos o nosso corpo e o nosso verdadeiro Eu (Júpiter e Vénus em Leão, na Casa 1)?

MENSAGEM nº 6 de PLUTÃO – ” Valoriza o teu eu, cuida do teu corpo e limpa-te de toda a carga de sofrimento que trazes dos teus antepassados. Aprende a fazer profundas curas psicológicas e físicas.”

É interessante perceber que, tal como no mito, Plutão (Saturno) e Vénus estão no mundo inferior (metade inferior do mapa) e que a Lua está mais elevada no mundo superior (metade superior do mapa da foto de Plutão).

Em suma, podemos dizer assim que a nova imagem de Plutão nos desafia a refletir sobre dois temas fundamentais da personalidade humana: o Amor e o Poder (ou a falta deles).

Na verdade, a ânsia pela sobrevivência e a ânsia amorosa/ sexual serão as duas faces da mesma moeda representada por Plutão.

Curar as nossas raízes mais traumáticas (cármicas, familiares e coletivas) e desenvolver a nossa individualidade são algumas das chaves para a superação das propostas representadas por este arquétipo.

Pluto_Grato

Olá, Plutão, gostamos de te ver… e obrigado pelos renovados desafios. Em particular, estamos gratos pelo coração altamente inspirador.

João Medeiros

Lisboa, 17 de Julho de 2015

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