Num cenário de tantas transformações sociais terá sido “coincidência” a inesperada resignação do Papa Bento XVI? Qual o simbolismo deste facto inédito? O que esperar do papel da Igreja Católica nos próximos tempos? E concretamente do pontificado do novo Papa? Estaremos perante a morte ou a ressurreição do Catolicismo?

Em artigos e vídeos anteriores, tivemos ocasião de referir por diversas vezes a importância da transição da estrela que governa as monarquias e realezas – Régulus, o Coração do Leão – para o signo de Virgem, entre 2011 e 2012, marcando a mudança para uma nova Era de 2150 anos.

Mencionámos igualmente que esse processo está relacionado com o fim de impérios de ostentação e egoísmo – as ditaduras árabes e dinastias capitalistas, por exemplo – em prol de uma Democracia mais verdadeira em que a população começa a assumir a sua verdadeira responsabilidade e poder, mesmo que à custa de crises, revoltas e motins sociais.

Dissemos também que a mudança não implica necessariamente um conforto maior para todos e culpabilização externa – essa foi a fase anterior de Régulus em Leão – mas um trabalho de responsabilização de cada um de nós, e capacidade de ação, com o auxílio das novas tecnologias de comunicação.

Por outras palavras, com a resignação do Papa temos ainda mais argumentos simbólicos para admitir oficialmente o fim da Era de Peixes – associada também ao movimento do Cristianismo – e início da Era de Aquário, pautada pelo desenvolvimento da ciência, da informação e da individualidade humana.

Bento XVI

Pela primeira vez em 600 anos de história, um Papa assume uma escolha individual rompendo com uma tradição institucional, abdicando voluntariamente da sua coroa de monarca, para bem dos valores em que acredita e da sanidade da própria Igreja.

 A resignação está envolvida num contexto de escândalos financeiros e sexuais no interior do Vaticano, questões que terão certamente pesado na decisão.

 Tal como tivemos destituições de diversos monarcas árabes nos últimos dois anos, quedas de governos europeus e de instituições financeiras, temos também aquilo que parece ser simbolicamente o fim da Monarquia Católica: a resignação voluntária de um Papa e consequente renovação do próprio conceito de Igreja Católica.

Com Régulus a ingressar em Virgem, o “rei” entrega a coroa em humildade, dando o sinal de que deixa de ser tão importante o prestígio de um cargo (Leão) quanto o verdadeiro serviço (Virgem) .

Em termos práticos, esta mudança implicará que cada “cristão” ou “católico” deixe de depositar a sua veneração por um “Rei” externo e respetiva instituição – o Papa e o Vaticano – mas que a assuma a sua fé individualmente e com responsabilidade. Ou seja, que pense pela sua própria cabeça.

PapaDesiste

Tal como os egípcios ou tunisinos já não precisam de ditadores, e as crianças quando crescem já não precisam de Papás, assim também os cristãos maduros – católicos ou de outra natureza – já não precisarão de Papas que lhes instituam leis morais, muitas vezes conservadoras.

Por essa razão, a “Santa Sé” católica parece estar condenada atualmente ao lento declínio. A não ser que renove radicalmente certos princípios de funcionamento, tais como a liberdade de escolha dos sacerdotes em termos de vida pessoal, matrimónio e sexualidade, bem como a transparência dos seus jogos políticos. E será que isso é possível?

Será que é plausível uma renovação e ressurreição profunda desta instituição, tão enraizada na sociedade? Ou será inevitável o seu declínio e extinção? Quais os ciclos que a governam, para poder responder a estas questões?

Já esteve num casamento sem padre ou num funeral sem homilia? Dentro de umas décadas, os sacramentos religiosos poderão estar profundamente alterados.

O Mapa Astrológico da Igreja Católica

Não existe propriamente uma data específica para a criação da Igreja Católica, embora esta considere que o Papa é um representante de Cristo na Terra, tendo sido o apóstolo São Pedro a “primeira pedra da Igreja” e, portanto, o primeiro Papa oficial. A Santa Sé considera que o seu “reinado” durou desde a morte de Jesus até à sua própria crucificação, supostamente em Roma, entre os anos 64 e 67.

ListaPapasCurto

Contudo, a palavra Papa foi usada a partir do séc. III para designar genericamente qualquer Bispo de uma região e apenas a partir do séc. VI para designar mais particularmente o Bispo de Roma. No séc.XI, o Papa Gregório VII emite uma declaração esclarecendo que o termo se aplica apenas ao Bispo de Roma, chefe da religião cristã do ocidente.

Para que consideremos o nascimento oficial do Catolicismo (cuja palavra que quer dizer “universalismo”) poderemos considerar duas datas significativas para a sua criação institucional. A primeira está associada ao Édito de Milão (também designado como Édito da Tolerância), de Fevereiro de 313 a. C., em que o Imperador Constantino I – ele próprio convertido – declara que o Cristianismo é uma religião legal e aceite oficialmente, permitindo assim que se diminuísse a perseguição aos Cristãos.

A outra data, provavelmente mais significativa, é 27 de Fevereiro de 380, quando por ordem do Imperador Teodósio I foi publicado o Édito de Tessalónica que instituía o Cristianismo como a religião oficial do Império Romano, sendo todas as outras religiões consideradas heréticas. Embora este facto tenha ocorrido já no declínio final de Roma, e na véspera das invasões bárbaras, pode considerar-se como o primeiro momento oficial da Igreja Apostólica Romana e o seu reconhecimento como doutrina de Estado.

Podemos dizer assim que o nascimento da Igreja Católica – enquanto instituição oficial baseada em Roma – se deu na fase entre 313 e 380 d.C., mas fundamentalmente nesta última data. Curiosamente, o bispo de Roma (Papa) desta altura da fundação católica era Dâmaso I, de origem lusitana.

MapaIgrejaCatolica

O Mapa astrológico deste “nascimento” (hora desconhecida e calculada simbolicamente para o meio dia solar) apresenta características interessantes tais como o Sol conjunto a Neptuno em Peixes (signo tradicionalmente associado à religião), bem como a Lua Exaltada em Touro, em ângulos favoráveis, o que favorece a estabilidade da instituição.

A posição de Júpiter – regente tradicional dos valores éticos e religiosos – também é curiosa uma vez que está em posição retrógrada e no signo Virgem – o seu Exílio – o que sugere uma tendência para a racionalização dos princípios Crísticos, a inversão dos mesmos e um certo conservadorismo (planeta “retrógrado”), aparentemente em prol da humildade e do serviço (Virgem).

As posições de Marte exaltado em Capricórnio bem como de Saturno em Carneiro/Áries estarão associados à faceta “militar” da Igreja, patentes mais tarde com as Cruzadas, com as Ordens religiosas e com a Inquisição.

Durante os séculos seguintes à sua oficialização, a religião cristã espalhou-se por toda a Europa – convertendo reis bárbaros como Clovis I, Rei dos Francos – e teve como principal pilar político o Império Romano do Ocidente, radicado em Constantinopla. Nessa época, o Imperador bizantino era implicitamente considerado o chefe supremo da Igreja cristã.

A pouco e pouco, começa a surgir uma cisão entre a Igreja do Ocidente e do Oriente, aprofundada quando o Papa Leão III coroa a 28 de Dezembro de 800 o Imperador Carlos Magno, transferindo assim a aliança política do bispado de Roma para com um rival romano imperador, que melhor proteção poderia dar contra os árabes. Em simultâneo, estabeleceu aqui o precedente que nenhum imperador ou rei do Oeste poderia ser coroado sem o reconhecimento do Papa.

CoroacaoCarlosMagno

Em 1054, as duas Igrejas deixaram praticamente de comunicar, ainda que houvesse dois concílios alguns séculos depois para tentar restaurar a união. Nesta separação da Igreja Cristã surgiram as identidades do Cristianismo Ortodoxo, presentes na Rússia e noutros países de leste, e o Cristianismo Católico da Europa Ocidental.

A Igreja Católica teve seguramente um papel importante na arbitragem de conflitos nos reinos da Europa Ocidental nos séculos seguintes, cimentando-se cada vez mais a importância do Clero na política europeia medieval, nos séculos XI a XV.

Contudo, as diversas práticas de abuso de poder, inquisição e escândalos deram azo ao desenvolvimento do movimento protestante no séc. XVI e que em décadas transformou a hegemonia do catolicismo na Europa ocidental, causando uma clivagem de ideologia religiosa entre países do Norte e do Centro-Sul.

Reformation_Europe

Este conflito esteve na origem da realização do Concílio de Trento (1545-1563) e do movimento da Contra-reforma Católica. O auge da divisão religiosa entre protestantes e católicos foi a penosa Guerra dos 30 anos (1618-1648) que fustigou a Europa e deixou mais debilitada a influência política católica.

A expansão do catolicismo nos séculos seguintes deveu-se sobretudo à influência e ao trabalho das ordens religiosas católicas nos impérios ultramarinos, particularmente na América e em África.

O ano de 1870 foi importante para a Santa Sé. Por um lado, foi decretado o princípio da Infalibilidade Papal – o atestado da superioridade moral inquestionável do Sumo Pontífice. Por outro lado, dá-se a unificação de Itália e a expropriação dos terrenos papais.

Pode dizer-se que foi das fases mais difíceis da influência Católica, com o surgimento de ideais republicanos laicos pela Europa. Porém, a um ano da descoberta de Plutão – o planeta da corrupção – é criada oficialmente a cidade-Estado do Vaticano, a 11 de Fevereiro de 1929, com o Tratado de Latrão, ratificado pelo parlamento italiano a 7 de Junho de 1929.

MapaVaticano

O Mapa da oficialização do Estado do Vaticano denota um certo conservadorismo pela angularidade de Júpiter em Touro, bem como pela retrogradação de Saturno em Sagitário. Porém, o facto mais relevante é a tripla conjunção em Gémeos o que sugere o mediatismo imenso do Vaticano, bem como a tendência para questões escondidas (o regente Mercúrio está combusto pelo Sol, regente da Casa XII, casa associada à corrupção e segredos).

Apesar de tudo, atualmente a Santa Sé ainda é das instituições mais antigas do mundo e a Igreja que reúne mais adeptos, mais de 1 bilião, tendo tido um papel determinante na História da civilização ocidental dos últimos dois milénios. É também a maior organização não governamental provedora de educação e serviços médicos em todo o mundo.

Mas será que a sua influência no mundo irá reforçar-se, transformar-se, decair ou extinguir-se nas próximas décadas?

Os Ciclos da Igreja Católica

Em meu entender, qualquer instituição existe para servir uma coletividade de indivíduos, em torno de valores comuns, para o desenvolvimento do grupo. Portanto, não é eterna. Nem um império, nem um país, nem um governo são eternos. Tudo é cíclico e as instituições também.

O Papa Bento XVI deu um sinal de que é possível a alteração de dogmas e paradigmas dentro da Igreja, ao abdicar do seu trono para que alguém em melhores condições físicas, possa fazer um trabalho melhor, mais forte e eficaz, para as reformas necessárias.

Na minha opinião (não definitiva e sujeito ainda a mais estudos), a Igreja Católica como instituição religiosa oficial seguirá o ciclo máximo de Júpiter  – 427 anos – ao longo dos seus ciclos e estará no seu 4º ciclo, associado à fase da Sabedoria/ Velhice, que terminará no final do séc. XXI. Portanto, estará numa curva de declínio da qual faltarão cumprir cerca de 80 anos e que poderá corresponder ao fim da instituição, tal como a conhecemos, nos seus princípios, hábitos e poderes.

CiclosCatolicos

Digamos que o ciclo da Infância se verificou sensivelmente de 366/380 a 793/807 e correspondeu à legitimação do Cristianismo como doutrina oficial do Império Romano e sua expansão pela Europa, com a conversão dos povos bárbaros.

O Ciclo da Juventude terá decorrido de 793/807 a 1220/1234 e foi a “glória” da influência católica no mundo, com a separação do Império Bizantino, crescente influência do papado nos Estados Cristãos Europeus, e aventura das Cruzadas. Durante este ciclo teve lugar a Reconquista Cristã aos árabes e a formação dos Reinos europeus como o de Portugal.

first_crusade

O ciclo da Maturidade ter-se-á desenvolvido de 1220/1234 a 1647/1661 e correspondeu ao desenvolvimento da Inquisição bem como, a partir da metade do ciclo, ao surgimento do protestantismo cristão e fragmentação do poderio católico na Europa.

O ciclo da Sabedoria estará em curso desde 1647/1661 a 2074/2088 e teve o seu clímax com o princípio da Infabilidade Papal, de 1870, e perda de territórios papais para o Estado italiano. A criação legal da cidade-Estado do Vaticano, em 1929, está em contra-ciclo com uma fase de declínio geral da influência e moral católica.

A fase de 2074/2088 poderá corresponder ao fim da Igreja Católica enquanto instituição ou sua grande renovação, num início de novo ciclo de 247 anos. O que nos leva a crer que até lá a tendência será mais no sentido da desagregação moral e decadência do que da renovação espiritual, com posturas mais conservadoras do que liberais, uma vez que está em ciclo contrativo.

Isto não implica, de forma alguma, o fim do Cristianismo que certamente sobreviverá. Somente a transformação e/ou fim de uma Instituição que advogou determinada interpretação dos princípios de Cristo no mundo. Existem outras perspetivas das palavras e da obra de Jesus, provavelmente, mais congruentes com a mensagem original.

Os Papas

Reconhecendo agora os Bispos de Roma (Papas) a partir de 380, fundamentalmente, verificamos que;

–  a média de cada governo foi inferior a 10 anos (lembramos que 12 anos é o ciclo de Júpiter, associado à religião);

– que dos cerca de 228 Papas apenas 10 (4%) tiveram pontificados de mais de 20 anos (incluindo-se aqui o de João Paulo II, o segundo maior de sempre);

– mais de 55 (24%) não ultrapassaram um ano de governação;

– que a esmagadora maioria (mais de 85 %) tinha origem italiana;

– que dos restantes Papas (15%), cerca de 17 eram franceses, 13 gregos, 8 alemães, 6 sírios, contando as outras nacionalidades com menos de 3 Papas ou nenhum;

– que o mais novo de sempre foi eleito entre os 11 e os 20 anos (Bento IX, em 1032);

– que o Papa mais velho (pós 1295) morreu aos 93 anos e que o mais velho a ser eleito tinha 79 anos.

– que nos últimos 500 anos, a média de idades na eleição era de 64 anos e a idade média de morte os 74 anos.

Cardinals

Por conseguinte, caso se tratasse de uma conjuntura normal, o esperado segundo a tradição seria a eleição de um Papa italiano com mais de 64 anos e uma duração de pontificado de cerca de 10 anos.

Porém, tanto o mundo como a Igreja vivem circunstâncias excepcionais pelo que politicamente seria mais desejável para a Santa Sé a eleição de Papa de outra nacionalidade, promovendo assim mais o seu universalismo, e mais novo, para ir de encontro à “mensagem” dada por Bento XVI, em relação à juventude que um Papa deve ter, atendendo aos desafios correntes da Igreja.

MapaBentoXVI

O Mapa astrológico do “demissionário” Bento XVI, agora designado como Papa emérito, revela claramente a sua vocação estudiosa e religiosa, com Saturno em Sagitário (planeta mais elevado) na Casa 9 (religião e estudos) bem como uma dominância clara de Júpiter, planeta da fé e da religião no Ascendente e no seu Domicílio, Peixes.

As Direções Simbólicas para os anos decisivos da sua eleição e resignação revelam que o início do seu pontificado foi dos anos mais duros e desgastantes da sua vida (Saturno no Descendente, oposto ao Ascendente) e que o ano atual de 2013 corresponde ao ponto mais elevado da sua vida e carreira (Júpiter no Meio-do-Céu), a sua verdadeira glória divina.

É caso para dizer que, afinal de contas, sai pela porta grande tomando uma decisão histórica com um efeito político exemplar, para o bem dos valores cristãos de serviço consciente. Uma decisão de humildade, própria de uma era de Régulus – estrela que governa os Reis – em Virgem.

Será que constitui o mote para um novo paradigma de Papado e condução dos destinos da Igreja? A tarefa do novo Papa não será fácil mas decisiva para a sobrevivência desta instituição milenar.

Adeus, Bento XVI, e obrigado pelo gesto tão significativo, de consciência e esperança.

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Na parte II deste artigo, olharemos para o perfil do novo Papa entretanto eleito e faremos uma análise dos desafios astrológicos do seu pontificado (ver continuação).

Obrigado a si, caro leitor, e um abraço!

Lisboa, 27 de Fevereiro de 2013

(no aniversário simbólico do Catolicismo)

João Medeiros

Notas Bibliográficas:

– Artigo sobre Régulus em Virgem – a Nova Era Mundial, por João Medeiros (2012), publicado no Jornal Astrológico 4 Estações – Edição Especial sobre a Crise (edição gratuita on-line)

– Mapa do Vaticano extraído de Book of World Horoscopes, de Nick Campion (1999) ; as 11h foram noticiadas nos jornais da época.

– Mapa de Joseph Ratzinger: dados extraídos da certidão de nascimento segundo o Astrodatabank.com

– Agradecimentos à Wikipedia.org pelo excelente serviço mundial que presta e que ajudaram muito nas pesquisas para este artigo