O que se passa com Portugal? Qual o sentido da recente manifestação que opôs massivamente a população ao governo, numa revolta contra uma medida considerada por quase todos como injusta e ineficaz? O que a Astrologia tem a dizer sobre isto? O que esperar nos próximos tempos?

Confesso que estas questões suscitam respostas longas e complexas, se as vamos analisar do ponto de vista astrológico. Já tive oportunidade de as desenvolver e explicar com detalhe, em artigos anteriores, num livro e em apresentações¹.

Hoje, apresento aqui apenas um argumento, mas suficientemente claro para se entender um pouco mais este grande processo que vivemos. Numa palavra, chama-se… Plutão.

Este planeta tão polémico e misterioso que conseguiu a proeza de ser despromovido da condição de planeta do sistema solar, pelos astrónomos, é representante universal daquilo que designamos como profundas crises.

Foi descoberto em 1930 num altura marcada pelo nascimento (e expansão) da energia nuclear, do fascismo, do crime organizado e, ainda, da psicanálise de Freud. A aliar a estes factores maioritariamente “animadores”, juntou-se também a maior crise económica do séc. XX: a Grande Depressão.

Ainda que não haja consensos, esta recessão que implicou uma queda drástica dos preços, dos rendimentos, e do emprego – com graves implicações para o bem-estar das famílias durante anos – foi causado pela desregulação dos mercados bolsistas e bancários norte-americanos da altura e pela contração de emissão do dólar (algo que é controlado por grupos privados). Ou seja, pode-se dizer que foi a primeira grande derrapagem do capitalismo, com impacto à escala mundial.

Genericamente, o processo de Plutão está associado, pela negativa, aos processos de poder subterrâneo (vulgo, corrupção) e manipulação de grandes riquezas e, pela positiva, aos processos de morte, limpeza e renascimento.

A proposta psicológica mais elevada deste astro é a de eliminar tudo o que não interessa para o nosso crescimento, tudo o que bloqueia a verdade e que acorrenta a nossa vontade. Mesmo que seja um processo confrontativo, duro e radical, em que temos que ver os podres à nossa frente, para perceber que temos de limpá-los da nossa vida.

Globalmente o que vivemos como portugueses de 2011 a 2013 é uma proposta de cura, em relação às nossas piores atitudes e tendências negligentes, os nossos câncros que são espelhados depois nos sucessivos maus governos que tivemos e na manipulação financeira dos mercados – os sintomas.

No mapa da Fundação de Portugal (Batalha de S. Mamede – 24 Junho 1128 – “a 1ª tarde de Portugal”), o mais representativo da nação² este astro encontra-se localizado em Touro, na Casa 8, o que simboliza a tendência do país para depender dos recursos alheios e, com isso, a sujeitar-se a crises económicas crónicas.

Desde que Plutão foi identificado em 1930, apenas realizou um trânsito verdadeiramente significativo no mapa de Portugal. E quando foi? Em 1974-1975, quando cruzou o Ascendente Balança e, em simultâneo, a grande conjunção Saturno-Neptuno, representante do destino sagrado e crístico da nação.

Estamos todos recordados que esta foi a altura da revolução do 25 de Abril, com grandes consequências para a economia do país e para a nova constituição democrática. Morreu um velho estado conservador e a guerra colonial; nacionalizaram-se bancos e empresas; nasceu a liberdade de expressão. Todas as estruturas e ideais de identidade do país foram transformados nesta altura, um período conturbado e com grandes custos, embora positivo no seu todo.

E atualmente, o que se passa? Vivemos o segundo grande trânsito de Plutão, desde que foi descoberto, afetando agora mais diretamente as bases populares.

De 2011 a 2013, este astro cruza o Fundo-do-Céu, tradicionalmente associado ao povo, às propriedades e ao passado. Nesta passagem, faz igualmente um movimento tenso a Saturno-Neptuno-Sol-Mercúrio, astros representantes dos líderes de Estado, envolvendo assim todo o país num processo de purga e catarse. Energeticamente, é uma fase de um  potencial transformativo semelhante ao do 25 de Abril. Não é por acaso que no passado dia 15 de Setembro de 2012 aconteceu a maior manifestação pública de sempre, em Portugal.

Na prática, é uma fase de psicoterapia coletiva, que pede um grande mergulho de auto-consciência para que a população (casa 4) acorde e comece a assumir mais o seu poder, opondo-se a certos estilos de governação imaturos (Sol em Caranguejo).

Basicamente, trata-se de arrumar a casa, perceber os recursos com que contamos do passado histórico, requalificar o nosso território, percebendo também a relação que temos com as casas, propriedades imobiliárias e agricultura.

Do ponto de vista espiritual é, sem dúvida, uma grande oportunidade de confrontação com a sombra (em que medida temos sido corajosos e civicamente responsáveis, até aqui?) e crescer.

E que é possível acontecer mais, em concreto? Sinceramente, depende. Da nossa força de vontade para definitivamente acordar para a possibilidade de participarmos conscientemente nas decisões políticas e ativar o melhor de Plutão no Fundo-do-Céu em Capricórnio: fazer renascer o país, comandado pelas bases, respeitando as tradições e os mais velhos.

Pessoalmente, sou um otimista e interpreto a nação como tendo um destino superior, mas que só é alcançado pelas vitórias de cada um, na busca da sua auto-superação e excelência individual, ao serviço da sociedade.

Felizmente, Portugal é mesmo um país protegido e abençoado. É um projeto templário, um projeto divino e amoroso. A sua História completa um Zodíaco inteiro, de 1128 a 2166.

Portanto, estamos a viver uma crise sim, bastante profunda, de 2011 até ao fim de 2013, mas não é certamente a primeira nem a última do país, ainda que possa ser a mais importante dos últimos 38 anos.

É uma crise plutónica moderna que advém da nossa psicose coletiva de desresponsabilização cívica, social e política durante os últimos anos, acentuada pela nossa participação em sistemas monetários e financeiros pouco transparentes e desequilibrados, que importa reformar, transformar ou mesmo liquidar.

Por isso, mãos à obra, com Vontade, Inteligência e Amor.

Um abraço

João Medeiros

PS – Se quiser saber mais sobre a História de Portugal à luz da Astrologia, recomendamos o artigo O Regresso de D. Sebastião ou o livro Oceano Ascendente – Ciclos Astrológicos de Portugal

¹ Na palestra “O Fabuloso Destino de Portugal, à Luz da Astrologia” (2011 e 2012), por João Medeiros, e no livro Oceano Ascendente -Ciclos Astrológicos de Portugal (2004), por João Medeiros

² Para mais informações sobre o Mapa da Fundação de Portugal, consultar o livro Astrologia Real (2004) de Luís Ribeiro e Helena Avelar