O que nos pode indicar o Mapa Astrológico do 25 de Abril, em relação ao caminho de Portugal? Como referencial da era democrática portuguesa iniciada em 1974, para que potenciais e desafios alerta? Qual a sua validade para a fase que atravessamos hoje?

(este artigo foi extraído do livro Oceano Ascendente – Ciclos Astrológicos de Portugal, de João Medeiros)

“Ao som do rádio pela noite tranquila  (…):

(25 de Abril) 0 horas 20 minutos :  a canção censurada ‘Grândola Vila Morena’ de José Afonso, transmitida pela Rádio Renascença, é a senha escolhida pelo Movimento das Forças Armadas para confirmação da irreversibilidade das operações;(…)

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Diagrama 1: O Mapa Astrológico (‘Grândola Vila Morena’) do 25 de Abril

Tinha nascido uma nova era para o país. Acabara a ditadura e começara a Democracia.  A atmosfera geral era de grande alegria, alívio e libertação, mas também de desconforto e incerteza pela situação colonial.  Estes dois sentimentos são o expoente da manifestação do ciclo da esperança, Neptuno-Júpiter, na juventude transbordante, e do ciclo depressivo, Plutão-Saturno, em crise de concessão.

Em termos de rigor astrológico pode dizer-se que vários momentos podem ser considerados como mais simbólicos para a edificação do mapa da revolução, destacando-se dois em particular: o momento ‘Grândola Vila Morena’ e o momento ‘ rendição do Governo’.

No entanto, o primeiro assume um carácter notoriamente emblemático, já que se tornou no meio popular o símbolo da revolução nascida ‘na madrugada de 25 de Abril’. Para além disso, o mapa ‘Grândola Vila Morena’ é um retrato astrológico muito consistente, a nível técnico, da realidade portuguesa nascida em 25 de Abril de 1974.

O mapa apresenta uma grande força dos planetas benéficos, Júpiter e Vénus, e uma fraqueza dos planetas maléficos, Saturno e Marte. Digamos que a revolução afirmou o reinado da alegria, da tolerância, da riqueza e do esbanjamento (dignidade de Júpiter em Peixes), a realização da liberdade (Urano no Meio-do-Céu) e a exaltação da paz, da arte e do amor (exaltação de Vénus), bem como o fim da guerra (Marte em queda), o fim do totalitarismo (queda de Plutão) e o exílio do governo repressor (exílio de Saturno).

A forte ênfase de Peixes na casa 3, posicionando os regentes do Ascendente, do Meio-do-Céu e da casa 5 em grande vitalização, enfatiza a expansão da pluralidade de expressão, seja política, filosófica, cultural ou artística como o grande impacto da revolução.  De repente, toda a gente podia falar e expressar livremente todas as suas opiniões, gostos e pontos de vista.

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Também se sublinha:

–          a abertura do país ao mundo numa atitude de desenvolvimento (ascendente Sagitário conjunto ao nodo norte) educacional, cultural e concorrencial (Júpiter na 3) numa aproximação aos países irmãos, em especial o Brasil, e aos vizinhos europeus (casa 3), voltada para a integração cultural (Peixes), pondo fim às políticas de isolacionismo internacional, conservadorismo educacional e proteccionismo industrial do Estado Novo.

–          a democratização política, dado que os Governos (casa 10) parlamentares (Balança) veiculam a liberdade (Urano na 10)  passando a depender da pluralidade (Vénus, regente da 10, em Peixes) de opiniões populares (casa 3).

–          a grande transformação dos princípios e direitos fundamentais (Plutão na casa 9) expressos na Constituição para maior justiça (Balança) indo ao encontro das bases populares em geral  (Mercúrio, regente da 9, na 4 e trígono Plutão-Lua), das mulheres e da classe trabalhadora em particular (Lua na 6)  – conquista do direito à associação sindical,  à greve, ao salário mínimo, ao subsídio de férias, etc., bem como direitos gerais ao trabalho, à saúde e educação, e direitos da mulher ao emprego, ao voto, à titularidade de contas bancárias, entre outros;

–          a  forte reestruturação económica  (Saturno, regente da 2) com nacionalizações e expropriações de empresas e bens de elites económicas (Marte, regente da 11) em prol do Governo popular e rural (Sol em Touro na casa 4, sextil a Marte e Saturno), por via da força e de uma transformação de direitos (Plutão na 9, quincúncio ao Sol, quadratura a Marte e Saturno);

–          a difícil resolução da  guerra colonial (Marte e Saturno na casa 7, das relações com os outros países), após o derrube do regime e aceitação do direito à auto-determinação dos povos (quadratura de Plutão na 9), em que a crescente pressão da comunidade internacional, instabilidade interna, e dificuldades negociais precipitaram uma descolonização embaraçosa (Marte e Saturno em Caranguejo) para colonizador e colonizados;

Retornados

O lema bradado no início do período revolucionário contemplaria estas vertentes, na que foi conhecida como estratégia dos ‘Três Dês: Democratizar, Desenvolver, Descolonizar’. A nível da História este momento constitui o derradeiro ponto final na ligação conservadora ao império colonial começado a desenhar com a épica fase dos Descobrimentos.

Foi o fim de um império militar, territorial e, portanto, material para dar lugar a uma relação de expansão comercial, linguística, cultural, artística, amorosa, educacional e espiritual (Peixes na casa 3). Baixaram as armas, abriram-se as mentalidades e os corações.

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De salientar, ainda que: Urano, significador de despertar, faz conjunção à estrela fixa Spica, associada à boa disposição, sorte e riqueza; Neptuno, significador de ideais,  está conjunto a Antares, associada à bravura, destruição e coragem; a Lua, significadora da população, faz conjunção a Aldebaran, relacionada com acções eficazes e ganhos de riqueza súbitos mas não necessariamente duradouros.

Nas grandes configurações planetárias do mapa, é notório também o claro ímpeto exagerado, característico de fases Jupiterianas, veiculado pela embriaguez popular e socialista (Lua no t-quadrado com Júpiter-Neptuno) num claro desfasamento entre as capacidades de trabalho e serviço públicos (casa 6), os gastos e  excessos de transacção comercial (Júpiter na 3) e as fraudes de bastidores (Neptuno na 12).

Este padrão parece estar associado não só à fase imediata pós 25 de Abril, em que o ouro acumulado pelas rigorosas políticas do Estado Novo desapareceu num ápice para alimentar as novas condições salariais,  como também à fase de integração na União Europeia, com injecção dos fundos estruturais: ambos permitiram ao país viver acima da eficiência e produtividade reais. O povo agigantou-se (Júpiter quadratura à Lua) com vantagens ilusórias de trabalho e de dinheiro, o que mais tarde originou decepção geral e o atraso de uma administração pública com um tamanho desmedido, sendo financiada por terceiros.

Reparando também nos símbolos sabianos surge a mensagem para o Ascendente (23º Sagitário): ‘um grupo de imigrantes no momento em que atende aos requisitos de entrada num novo país‘, o que reflecte como auto-imagem nacional a transição colonial, preparação e entrada na UE. A mensagem para o Meio-do-Céu (14º Balança) é: ‘no calor do meio-dia, um homem faz a sesta’, o que poderá sugerir governos e realizações pelo aproveitamento relaxado de oportunidades.constituicao_1976

Na outra grande configuração planetária é também visível a reestruturação de poderes (Plutão quadratura Saturno) em que se processou a queda de governo, e um ajustamento gradual entre a posição dos militares na liderança governativa (Marte sextil ao Sol) em progressivas revisões constitucionais (figura de ajustamento, com Plutão quincúncio ao Sol, quadratura Marte).

Para além da questão da descolonização e transformação total da política externa, este padrão estará relacionado com a constitucionalização equilibrada de poderes jurídicos, governativos e militares, bem como com o ajustamento do quadro legal aos parâmetros internacionais (intercâmbio de casas 7 e 9 , envolvendo o Sol).

A posição do Sol (casa 4 em Touro) representa a importância da governação social, e da base rural, com consequências para a dinâmica de poder (interno e externo) e para o endividamento externo (Leão na 8). A estrutura de produção e económica passa a depender da relação com os outros países (Saturno, regente da 2, na 7), tal como os organismos de governação e de defesa (Marte, regente da 11, na 7). Isto é, houve uma transferência de poder para o exterior devido à desgovernação e à necessidade de crédito externo para o desenvolvimento.

A principal dificuldade, como evidenciado no mapa, é a problemática de relacionamentos com os outros países, que são os disciplinadores e repressores de Portugal (Marte e Saturno na 7, regentes da 2, 4 e 11). É como se a população estivesse ‘mimada’ com condições insustentáveis e que, mais tarde, essa insustentabilidade financeira gerasse grande pressão por parte dos credores.

O país poderá sentir-se diminuído nas suas relações externas e confrontar-se com divergências graves de princípios de Estado, com os seus aliados (Plutão na 9 em quadratura). A questão importante, neste âmbito, é a destruição e limpeza das alianças que forma, nas área institucional, financeira e de defesa, de maneira a estabelecer profunda confiança e sintonia de princípios de soberania. Caso contrário, poderá estar a aliar-se aos seus inimigos, que o castram.

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Por outro lado, a grande preponderância da casa 3 está associada a toda a libertação da comunicação e pluralidade de expressão não só de teor político-partidário como também de carácter social (as revistas cor-de-rosa e as novelas brasileiras que, por exemplo, foram um fenómeno público), passando pela ligação entre desporto, espectáculo e política (Vénus rege a 10 e a 5, estando exaltada), e pelo desenvolvimento de auto-estradas, estradas, telecomunicações, centros comerciais, jornais e televisão. São temas de casa 3 que, em Peixes, têm particular afinidade com o audio-visual. A ênfase venusiana e pisciana do mapa também subentende a promessa da revolução feminina.

O mapa sugere Portugal como um palco de convergência da diversidade cultural no mundo, um centro de propaganda de paz e de valores universais, em especial com celebrações e manifestações desportivas, artísticas, religiosas e filosóficas.

O evento Expo-98 constitui um exemplo magnífico da concretização deste tipo de energias, sendo claramente a expressão de casa 3 do mapa do 25 de Abril com Vénus e Júpiter em Peixes: a Exposição Universal dos Oceanos ! Um dos principais logotipos deste evento foi precisamente o golfinho sobre o mar azul, animal associado mitologicamente ao signo de Peixes.

FabulosoPortugal

Outro exemplo, mas numa dimensão mais polémica devido ao seu alto custo de oportunidade em termos de alternativas sociais, é a realização do Euro-2004, o Campeonato da Europa de Futebol.  O seu logotipo,  o coração dourado com uma bola no interior, simboliza a união colectiva pelo desporto sendo portanto a manifestação de um valor universal de paz. Na perspectiva religiosa, Portugal é o local do santuário de Fátima, palco de grandes cerimónias e procissões. Na vertente arqueológica, por exemplo, tem o Vale de Foz-Côa, um grande património mundial.

A grande força de divulgação cultural também se pode manifestar com a expansão da literatura, da arte e da filosofia de Portugal pelo mundo. Nesta linha, enquadra-se Saramago e Fernando Pessoa, como grandes expoentes nacionais.

Na interpretação mais optimista possível do mapa em questão, Portugal pode até ser um dia a voz para uma verdadeira mensagem espiritual ao mundo nos tempos futuros, no que poderá ser o apogeu do quarto ciclo da História de Portugal, os novos Descobrimentos.”

Este artigo foi extraído do Livro Oceano Ascendente – Ciclos Astrológicos de Portugal, de João Medeiros, publicado em  2004 pela Editora Pergaminho.

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