Neste artigo, explicamos de forma concreta em que medida a Astrologia Horária pode responder a questões diretas sobre o resultado da competição entre dois oponentes, como um jogo de futebol. Debatemos também a ética envolvida nestes casos e qual deverá ser a postura de astrólogo e cliente.

Era domingo à tarde (23 de Agosto de 2015) e o meu cunhado, benfiquista, pergunta-me: “Quem ganhará o jogo de logo, Arouca-Benfica?“. Após cálculo do mapa no computador (do momento em que a questão foi colocada) e analisado durante alguns minutos, o meu veredicto foi: “Grande probabilidade de derrota do Benfica; na melhor das chances, o empate; mas o mais natural resultado, perderem o jogo“.

arouca-benfica2

Para quem não conhece o futebol português, podemos dizer que o Benfica era favorito à vitória por várias razões: é o bicampeão português; habitual candidato ao título; estava em primeiro lugar da tabela, após vitória no jogo anterior, por 4-0. Por outro lado, o Arouca é considerada uma equipa menor que apenas este ano chegou à 1ª Divisão. E, portanto, o vaticínio era contrário ao esperado e, a ocorrer, seria uma grande surpresa para a maioria das pessoas.

Após este diagnóstico, de um resultado surpreendente, o meu cunhado avança: “Bom, nesse caso vou apostar uns trocos“. Ao que eu disse, “Não é conveniente nem recomendo. Pela razão que a Astrologia não deve ser usada para fins de lucros em jogos de soma nula, ou seja, em que o ganho de uma pessoa corresponda à perda material de outra“.

O resultado do jogo foi a vitória do Arouca por 1-0, como a análise astrológica indicava, o que gerou um intenso debate entre mim e o meu cunhado (curioso, mas natural céptico das áreas esotéricas), sobre as implicações éticas e utilidade da Astrologia neste respeito.

Fruto deste encontro, analiso neste artigo estes pontos: a técnica de interpretação de mapas com a questão “Quem ganhará o jogo?“; o exemplo em concreto; e as questões éticas envolvidas.

– Quem Ganhará o Jogo?

 O astrólogo que mais explorou a Astrologia Horária – disciplina milenar – aplicada num jogo moderno – o futebol – é o inglês John Frawley. É na minha prática pessoal e na sua experiência, tão bem explicada no livro Sports Astrology, que me baseio para apresentar os princípios gerais deste método.

SPORTS ASTROLOGY

Sublinho que nesta modalidade de Astrologia, a forma da pergunta é de vital importância. Assim, perguntas como: “Quem ganhará esta grande competição entre várias equipas?“, como o resultado final de um campeonato, devem ser abordadas de formas diferentes, como já vimos noutros artigos.

Aqui, focamo-nos apenas na análise a um jogo em específico entre duas equipas. Para este efeito, poderá estudar-se o mapa do evento (calculado para hora e local do início da partida) ou o mapa da pergunta colocada espontaneamente noutra hora e dia qualquer. Este último método – pergunta horária – é claramente mais eficaz, em minha opinião, e é esse que explico sucintamente.

1. Tal como qualquer outra pergunta horária, o mapa de análise é calculado para o dia e hora exata em que o astrólogo ouve a pergunta e para o local onde está situado nesse momento.

2. O astrólogo deve perguntar ao cliente por qual das duas equipas está a torcer. Essa equipa será representada pela Casa 1 e seu planeta regente. A equipa oponente é representada pela Casa 7 e seu planeta regente.

3. São analisadas as condições (por dignidade/ debilidade) desses planetas e das respetivas casas. O que estiver mais favorecido, em relação ao outro, ganhará. Se as dignidades forem muito equivalentes, o empate será forte hipótese, caso seja permitido segundo os regulamentos do jogo.

Um planeta está dignificado, por exemplo, quando num signo que governa (como Vénus em Touro), numa Casa Angular, bem aspetado. Está debilitado quando, por exemplo, num signo de detrimento (como Mercúrio em Sagitário), numa Casa Cadente, retrógrado ou mal aspetado.

Normalmente, um planeta acumula situações de dignidade e debilidade o que dificulta o balanço geral. Por exemplo, o Sol pode estar no seu signo (Leão) mas numa Casa 12 e em quadratura a Saturno. Aí, as debilidades seriam maiores que a dignidade estando este astro, portanto, desfavorecido.

Na prática, há muitos detalhes relevantes que teremos ocasiões de explicar em artigos posteriores, como os regentes secundários (regentes da Casa 10 e da Casa 4). Para já, analisamos a questão colocada, como exemplo.

– O Jogo: Arouca vs Benfica

No mapa desta pergunta, o Benfica é representado por Júpiter por ser o regente da Casa 1, em Sagitário. Recordo que quem colocou a questão, era benfiquista assumido.

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Em termos de sincronicidade, esta atribuição de Júpiter faz sentido também por outras razões: trata-se do maior clube português (Júpiter é o maior planeta); representado pela águia, animal que mitologicamente está muito associado a Júpiter (o Deus Zeus disfarçava-se muitas vezes de águia, o seu animal favorito).

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Júpiter acumula aqui 4 debilidades: está em exílio (Virgem); em quadratura a Saturno (embora dissociada); numa casa 8, natural casa de ansiedade e perdas; e completamente combusto, porque a 1 grau do Sol. Por outras palavras: pior estado, impossível.

Caso o Sol governasse outra casa (que não a 8), a conjunção até poderia ser benéfica, mas não é o caso. A única esperança era se o regente do Arouca estivesse igualmente mal, para que o Benfica conseguisse um resultado simpático.

O regente do Arouca é Mercúrio, já que temos Gémeos no Descendente. Este regente também é adequado para uma equipa “menor”, atributo típico deste planeta.

Mercúrio apresenta uma grande dignidade – está no seu signo máximo que é Virgem onde acumula exaltação e domicílio – e uma ligeira debilidade, porque na Casa 9 que é Cadente. Portanto, comparativamente, está muito mais bem colocado do que Júpiter. Não apresenta aspetos/ ângulos relevantes, bons ou maus.

Os regentes secundários – Marte e Vénus – pouco ou nada acrescentam à análise, pois estão no mesmo signo e casa. As Casas 1 e 7 estão vazias. A Lua, regente geral do desenrolar da situação aplica-se a Vénus mas a 9 graus de distância.

Todos os argumentos somados: a análise favorece francamente mais o Arouca do que o Benfica, o natural derrotado, como se veio a verificar.

– O Debate sobre a Ética astrológica

É uma pergunta pertinente a colocar, se fará sentido que o astrólogo ou cliente aproveitem esta informação para benefício pessoal em apostas financeiras nestes jogos. Por exemplo, o meu cunhado podia perfeitamente ter feito um lucro de 400 % com um clique.

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Pela experiência de Frawley é notório que quando o astrólogo se foca nesse objetivo lucrativo piora o êxito da sua análise dos jogos. Por outras palavras, o ganho que teve na primeira ocasião, é perdido nas vezes seguintes, por erros de análise.

Enquanto que, quando o astrólogo se abstrai da possibilidade de “lucro” ou do seu ego e se concentra no instrumento “divino”, o diagnóstico é muito mais certeiro, em ocasiões consecutivas.

Pela minha prática, posso constatar esta tendência. Quanto mais tentação tive em apostar ou apostei mesmo, menos corretas foram as análises. Pelo contrário, quanto menos pensei nessa possibilidade, mais acertados foram os prognósticos, superando diagnósticos dos especialistas desportivos.

A aposta não é interdita a astrólogo e cliente, no entanto. Deve ser antes validada pela própria Astrologia com a pergunta: “Devo fazer esta aposta?“, como diz Frawley, e bem, na minha opinião, desde que esta pergunta não seja feita a toda a hora, de forma recorrente, mas em ocasiões especiais e ocasionais.

A Astrologia, como disciplina de ligação ao sagrado, deve ser praticada com fortes princípios éticos e com parcimónia.

AROUCA

Concluindo, a utilidade destes exercícios é essencialmente pedagógica e lúdica. Por exemplo, para demonstrar o que representa um Exílio (derrotado) e um Domicílio/ Exaltação (vencedor), aplicado no contexto moderno do desporto, que tanta atenção desperta no espaço mediático.

Neste caso, a Águia-Zeus foi vencida por Mercúrio-Prometeu, que roubou o fogo dos Deuses, em estado de graça (a Exaltação).

O mero exercício interpretativo destes jogos é, por si, suficientemente divertido e digno de ser partilhado.

Iremos desenvolver estes temas em futuros artigos.

Obrigado e até breve!

Para mais artigos do género:

-Astrologia e Futebol: Qual o Interesse?

Astrologia Horária: O Campeão de 2015

Lisboa, 24 de Agosto de 2015

João Medeiros